“A sociedade paga os estudos”: ela é a única médica e deputada que quer regulamentar a constituição de médicos

Ele é uma voz particularmente discordante dentro de sua corporação. O deputado do Partido Verde, Dominique Voynet, votou a favor do projeto de lei "que visa combater o deserto médico", aprovado em primeira leitura na Assembleia Nacional na quarta-feira, 7 de maio. Nele, consta o controverso primeiro artigo, que prevê a regulamentação da instalação de médicos para facilitar sua distribuição e eliminar as disparidades em todo o território.
Em uma câmara esvaziada, 99 parlamentares votaram a favor do texto, contra 9 contra, dos 577 eleitos para esta legislatura. Dos 12 médicos que atuam como parlamentares, 11 estavam presentes durante a votação. Apenas um se manifestou a favor do texto: Dominique Voynet.
O representante eleito de Doubs, anestesista de formação e ex-diretor da Agência Regional de Saúde (ARS) de Mayotte, é uma anomalia. Em entrevista à BFMTV, ela justificou essa decisão consciente, baseando-se em seu conhecimento como autoridade eleita local e ex-membro da profissão médica.
"Eu era diretora de uma ARS numa região que é um verdadeiro deserto médico, em Mayotte. Antes, durante e depois da Covid-19, conversei com meus colegas diretores-gerais da ARS, que, no fim das contas, enfrentaram os mesmos problemas: a distribuição desigual de profissionais de saúde em seus territórios", explica ela.
Mas não é preciso ir a Mayotte, onde a situação é particularmente crítica, para ver esses problemas. Como ex-prefeita de Montreuil (Seine-Saint-Denis), ela pôde observar uma desertificação "de certos bairros a três ou quatro quilômetros do anel viário de Paris".
Sua observação: "nos distritos urbanos, nas áreas rurais e também nos departamentos ultramarinos, notei que havia um descompasso entre os jovens médicos" e as necessidades concretas de clínicos gerais.
Esta observação é geralmente compartilhada por todos os participantes do debate. Mas as soluções consideradas não são as mesmas. Entre sindicatos e lobbies, há uma pressão maior por uma forma de autorregulamentação ou pelo estabelecimento de incentivos financeiros para encorajar profissionais a se estabelecerem em áreas menos favorecidas.
"A autorregulamentação não funcionou. Já dizem isso há dez anos", observa Dominique Voynet com amargura, notando algum progresso, mas uma resposta insuficiente.
Portanto, esse não é o caminho que chamou a atenção dos legisladores. Em resposta, a profissão iniciou um movimento de greve para protestar contra essa mudança, liderado por internos e jovens médicos.

O parlamentar reconhece que esses jovens “prestam um serviço à sociedade”, ressaltando que “os hospitais teriam dificuldade de funcionar sem os internos e externos”. Mas ela insiste na necessidade de remuneração desses profissionais de saúde, que atuam graças à solidariedade nacional, inclusive na prática privada.
"O que oficialmente chamamos de medicina privada não é realmente medicina privada. Não há grandes riscos; é altamente regulamentada e protegida. É a sociedade que reembolsa seus serviços por meio da previdência social. É a sociedade que paga seus estudos", ressalta Dominique Voynet. Em declarações à BFMTV, o eleito destacou ainda o facto de os médicos não serem os primeiros a verem o seu estabelecimento restringido, muito pelo contrário.
"Por um lado, eu entendo (os médicos, nota do editor), porque é uma grande reviravolta. Por outro lado, os mesmos parlamentares não concordaram em ceder à pressão quando isso foi proposto para outras profissões. Meus pais são professores, eles não escolheram o local para onde foram nomeados , mas foram para lá", argumenta ela, enfatizando que ainda será necessário levar em conta as especificidades da profissão.
Dominique Voynet reconhece que este projeto de lei "não resolve tudo", mas acredita que ele tem o mérito de "abrir o debate". "Tivemos que acelerar as coisas e fazer com que elas andassem, para dizer que o status quo não era mais possível, não era mais sustentável", diz ela.
A prova do sucesso da operação, segundo ela, foi o anúncio apressado de outro plano do governo de François Bayrou . Em vez de regulamentar a instalação, o executivo — que se opôs ao texto dos parlamentares — está pedindo que os médicos passem dois dias por mês longe de seus locais de atuação para realizar plantões em um deserto médico.
"Este projeto de lei não resolve tudo", ela admite. Mas ela espera que esse debate, agora aberto, leve ao progresso dos pacientes. Embora o texto deva ser apresentado ao Senado nesta segunda-feira, o ecologista acredita que o texto votado em primeira leitura corre o risco de ser "abalado". "Não tenho certeza se o projeto de lei aprovado pela Assembleia passará no teste do Senado. Mas vejo que o debate está finalmente aberto. Finalmente!"
BFM TV